A janela estava aberta e as manchas na parede formavam interessante desenho quando abriu os olhos, naquela manhã. Escondera a cabeça quando notou os primeiros raios solares, horas antes. O cansaço era notado pelo vento que distraía-se em seus móveis e livros espalhados por cada cômodo. Um filme do grande Robert De Niro estava na tela quando o monitor televisivo ligou no horário programado. Dias sozinho. Dias sem notícia alguma daqueles que ele consagrara como família escolhida. Dias sozinho a perambular pelas ruas semi-mortas. Importante se torna quando demonstra ter aptidão para se valer da soma de mais que muitos pences.
Se a vida é xadrez, um carteado bem jogado de pôquer, o que seria ele senão uma máscara que adentra os caminhos sem fazer diferença? Indifere respirar mais compassadamente ou não nos entreveiros das noites e dos pesadelos diários do mundo que precisa capitalizar e não poupar nada nem tão somente o próprio mundo. Respira funda após a frase longa. Tentar "ser" o torna diferente, insignificante, doudo, póstumo ainda que pensar e refletir possa e o faça. Não estamos no tempo do soma do caro Huxley. Estamos na significante e indiferente época do celebrar. Celebrar conquistas seja a que nível for e a que preço vier. Celebrar impérios recentes e conquistas comerciais vindouras. Celebrar pessoas sem motivador agir que estão nas capas das revistas.
Portanto, o que há de errado se ele esquecer tal vigoroso mundo e adentrar ao seu próprio eu mais e mais? Se não costumam compreender suas atitudes, qual razão teria de hesitar a permanecer sem dar notícias, visto que não as querem? Navegar é preciso rumo a evolução íntima já que as outras evoluções importam muito mais para a maioria que não sabe o que fazer com suas montanhas de conquistas, suas fartas revistas sobre como celebrar a vida inconsistente nesse novo cosmo contemporâneo, fomentador da vida do presente reluzente como ouro raro.
Pois sim, subiu escadas, rangeu correntes, apertou parafusos. Pendeu o corpo diante do pára-raio quando a tempestade veio. Estava pronto a deixar de ser fragmentado, como sua espécie prefere. E da solidão significante olhou os mares que pôde. Respeitou ainda mais os mares que pôde observar. Subiu escadas, rangeu correntes, apertou parafusos, abriu um vinho; quando estava na altitude vultuosa de seu próprio olhar a dialogar com a importância de sua essência de vida... olhou seu próprio mundo, sorriu, desejou uma única companheira e escreveu, em folhas amareladas pelo cansaço, o que mais a frente iria querer se orgulhar: suas obras e sua vida.
Solitário então aquele que "é", aquele que respira e sorri sozinho no esperar do amanhã, mesmo que tenha que se orgulhar afastado dos demais, da consistência que se torna no findar dos dias. E seu nome era Creatura.